É absolutamente inacreditável que a obra de Marx tenha sido escrita sob as condições em que foram, e com a morte de quatro de seus filhos, incluída uma menina e dois recém-nascidos. Sem dúvida Jenny foi fundamental para essa obra – que vai muito além da parte escrita, mas também a fundação do primeiro partido internacional, a I Internacional Comunista, participação em diversos processos revolucionários, as sementes de vários sindicatos e partidos nacionais, inúmeras lutas em meados do século XIX até mais do que seu quarto final. Marx foi na maior parte da vida um homem de ação, sempre um revolucionário.
A obra de Marx e Jenny também é tributária à muita gente, como Helene Demuth e do mais que irmão Frederich Engels, bem como todas as três filhas, Jenny, Eleanor e Laura – das quais, as duas últimas se suicidaram, todas com vidas de tormentas. A partir da visão imprimida no livro Amor e capital, uma obra como a de Karl Marx é a obra de uma família que, da profundeza de uma vida miserável materialmente, conseguiu, a partir de crença e convicção imbatíveis, forças para mudar o mundo. Essa é a tese da autora Mary Gabriel.
Mary também ajuda a desmistificar que teria sido obra do mecenas Engels a sustentação da família. De fato ele buscava não os deixar na mão (mas também nem sempre conseguia), mas foi o trabalho suado do corpo dos Marx e de tantos e tantas camaradas que garantiu a sobrevivência da família. A autora mostra também a traição de Marx e o filho dele fora do casamento (com Demuth), o Freddy.
É possível perceber, finalmente, que Marx é filho de uma época, que, com a luta e vitórias feministas, como na Revolução Russa, na pílula anticoncepcional, o direito ao aborto (que no Brasil passa à decisão de bancada de fundamentalistas religiosos), Marx como um mítico macho heróico não é mais possível.
[GABRIEL, Mary. Amor e capital: a saga familiar de Karl Marx e a história de uma revolução. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.]