Desde a segunda metade do século XX, Hollywood colocou-se como provedora do perfil moral do Ocidente. Leva à tela os comportamentos que são aceitos pela maioria de nossa classe média e burguesa. Um dos conceitos trazidos pelo cinema americano foi o perfil de macho e fêmea diante do amor e do sexo. Gays e lésbicas só existiam como estereótipos quase sempre satirizados. Isso está mudando.
O primeiro sinal quanto ao desejo de mulheres pelo seu próprio gênero é o filme Carol, concorrente ao Oscar, do diretor Todd Haynes. O filme é baseado no livro “The Price of Salt” de Patricia Highsmith de 1952. A autora, que pessoalmente tinha preferência por mulheres casadas, é autora de livros policiais famosos e essa investida no campo da sexualidade é a sua única obra que não havia chegado às telas.
Há ainda, A garota dinamarquesa, de Tom Hopper, que reconstitui a vida do homem que fez uma das primeiras operações para troca de sexo, na década de vinte. Eddie Redmayne interpreta um pintor que se descobre mulher ao posar para sua esposa, também pintora.
Até agora os gays e lésbicas eram caracterizados como efeminados (no caso dos homens) e brutos (no caso de mulheres). Algo como cães de raça ou feras no zoológico. Pairava sobre eles uma “anormalidade suportada”. É isso o que está mudando.
O interessante vai ser observar como os conservadores de todo o mundo e especialmente os americanos vão se comportar diante dessa mudança. Eles acabarão tendo que engolir “viados” e “sapatonas” desfilando na tela diante de seus olhares contrariados.
Flávio Braga é escritor