As eleições holandesas foram o acontecimento de maior repercussão na imprensa internacional nesta semana. A derrota do ultradireitista Geert Wilders, que buscava ser o Trump holandês, produziu uma mistura de alívio (visto que as pesquisas lhe colocavam com chances reais de vitória) e ao mesmo tempo de preocupação, posto que o candidato vitorioso, o atual premiê liberal Mark Rutte, deslocou seu discurso para a direita a fim de manter seu partido na liderança do governo. O fato é que tanto os defensores da União Europeia quanto as forças pró-imigração celebraram o malogro de Wilders.
Por outro lado, o mundo ainda assistiu na última semana ao encontro repleto de tensão entre Trump e Merkel, a condenação de Artur Mas pela construção do referendo independentista em 2015, a batalha por uma nova consulta de independência da Escócia, o bombardeio de Israel na Síria, a convocação de novas eleições presidenciais na Coreia do Sul, os escândalos no governo Abe no Japão, o protesto de curdos na Alemanha contra Erdogan, o desarmamento do grupo separatista basco ETA e a convocatória de greve geral contra Macri.
Esta edição do Clipping traz estes assuntos mais nove artigos escritos por diferentes vertentes da esquerda mundial.
A todos uma boa leitura e até a próxima edição.
Charles Rosa – Observatório Internacional
ELEIÇÕES NA HOLANDA
No 15 de março, os holandeses foram às urnas. Os resultados foram a vitória do atual premiê liberal Mark Rutte (21%), com menos votos que a vez anterior (25%), a derrota acachapante da direita nacional-populista, representada por Geert Wilders (13%) cujas pesquisas apontavam um apoio bem maior de 24-26%, o encolhimento impressionante do Partido Trabalhista (de 24% para 5%) e a ascensão vertiginosa da Esquerda Verde (de 2% para 9%). O debate das últimas semanas esteve centrado na questão imigratória e um partido dos imigrantes turcos (DENIK) conseguiu eleger seus três primeiros representantes no Parlamento e cravar 7,5% dos votos na capital Amsterdã.
ENCONTRO MERKEL E TRUMP
A chanceler alemã foi a Washington visitar a Casa Branca. A cena mais repercutida de seu encontro com Trump foi a recusa deste de lhe apertar a mão perante os fotógrafos. Além desse incidente simbólico, na pauta da reunião esteve a garantia alemã de manter o apoio a OTAN, as dívidas militares da Alemanha, o problema dos refugiados e a espionagem de chefes de estado promovida durante o governo Obama.
CONDENAÇÃO DE ARTUR MAS
O Tribunal Superior de Justiça da Catalunha condenou o ex-presidente do governo catalão Artur Mas a dois anos de inelegibilidade pela realização de um referendo pela independência catalã em relação ao Estado espanhol. A medida é vista como um sinal de alerta para o atual presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, que já anunciou um novo referendo para setembro próximo, a contragosto do primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy. Neste domingo, milhares saíram às ruas da Catalunha defender o processo independentista.
DESARMAMENTO DO ETA
O grupo separatista basco ETA anunciou na sexta-feira (17 de março) seu desarmamento unilateral e incondicional a partir de 8 de abril e inclusive irá revelar os esconderijos de seu arsenal para as autoridades. O exército independentista, extremamente fragilizado nos últimos anos, adotou a medida de acelerar a entrega de armas, depois que a Espanha e a França se recusaram a um processo de negociação. Além disso, uma parte da esquerda nacionalista basca já pressionava o grupo a abandonar a tática armada, com vistas a fortalecer o movimento político de massas na região.
ESCÓCIA
Impulsionado pelo Brexit, cresce uma tendência política na Escócia favorável à realização de um novo referendo de independência. A premiê escocesa Nicola Sturgeon vem concedendo uma série de declarações nas últimas semanas se posicionando pelo direito dos escoceses decidirem se querem continuar a fazer parte da União Europeia ou permanecer no Reino Unido cada vez mais isolado. Theresa May, primeira-ministra britânica, em contrapartida trabalha para inviabilizar as condições de um novo pleito de ruptura.
PROTESTOS CONTRA ERDOGAN NA ALEMANHA
Frankfurt foi palco neste fim de semana de uma manifestação de milhares de curdos contra Recep Erdogan, mandatário turco. O ato reivindicou a liberdade da principal liderança do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), Abdullah Oculan, e denunciou as medidas arbitrárias de Erdogan. O governo turco comentou o protesto, criticando a permissão concedida pelo Estado alemão aos curdos. O protesto ocorreu em meio ao acirramento das tensões diplomáticas entre o governo turco e líderes europeus. Na segunda-feira, o presidente turco acusou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, de “apoiar terroristas”. A Turquia tem criticado o país por oferecer refúgio a militantes da causa curda.
CONFLITO NA SÍRIA
Aviões israelenses atacaram vários alvos da Síria na madrugada da sexta-feira (17/03) e, em resposta, teve um abatido pelo Exército Sírio no enfrentamento mais sério entre os dois países desde 2011. Alguns analistas internacionais veem a recente interferência de Israel, como uma movimentação visando diminuir o espaço de influência de seu estado rival Irã na região.
NOVAS ELEIÇÕES NA COREIA DO SUL
9 de maio será o dia em que os sul-coreanos irão às urnas escolher o sucessor da presidenta cassada Park Geun-hye, destituída após a revelação de um grande esquema de corrupção no interior do seu governo em conluio com algumas das maiores empresas do
JAPÃO
O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, está enfrentando escândalos em duas frentes devido a dúvidas sobre seus laços com uma escola nacionalista envolvida em uma compra suspeita de um terreno e a clamores pela renúncia de sua ministra da Defesa. Os reveses na sua imagem vêm justamente num momento em que o Japão tenta renegociar acordos comerciais com os EUA e a burguesia japonesa pressiona Abe a acelerar as “reformas estruturais” para maximizar a produtividade japonesa.
GREVE GERAL NA ARGENTINA EM 6 DE ABRIL
A maior central sindical argentina, CGT, foi pressionada a convocar a primeira greve geral contra o governo Macri depois da forte paralisação ocorrida em 7 de março. A data escolhida foi o próximo 6 de abril e os macristas já tentam descafeinar as mobilizações deste dia, oferecendo alguns pactos para o triunvirato peronista que dirige a CGT.
CASO ODEBRECHT NA COLÔMBIA
O chefe de campanha de Juan Manuel Santos em 2014, Roberto Prieto, confessou na terça-feira (14 de março) que pelo menos 440 mil dólares da campanha veio de origens irregulares da Odebrecht, obrigando Santos a pedir desculpas em rede nacional. O escândalo atinge o governo Santos em sua reta final.
ARTIGOS E NOTÍCIAS DA ESQUERDA INTERNACIONAL
1- Balanço das eleições holandesas – O jornalista Romaric Godin interpreta o fracasso de Geert Wilders no 15 de março, o castigo à coalizão governante e principalmente o encolhimento do Partido Trabalhista.
2- A revolução ultraliberal prometida por Macron – A jornalista Laura Raim destrincha a essência das propostas liberalizantes de Emmanuel Macron, hoje favorito a vencer as eleições presidenciais francesas.
3- A vitória de Trump e a profunda crise do capitalismo – Nicole M. Aschoof, uma das editoras da Jacobin Magazine, enxerga os pontos de contato entre a emergência de Trump nos EUA e a agonia prolongada do consenso neoliberal que presidiu as relações geopolíticas e econômicas nas últimas décadas.
4-Corrupção da Odebrecht na Colômbia – O cientista político Juan Javier Capera Figueroa comenta a inserção corrupta da megaempreiteira brasileira no sistema político colombiano.
5- Referendo na Turquia – O analista político Esen Uslu anota as motivações que levam Erdogan a apostar tudo num referendo (em 16 de abril) que lhe garanta a permanência no poder e observa as dificuldades do AKP em consolidar a autocracia de Erdogan.
6- O ajuste de Macri e a ebulição social na Argentina – O economista Claudio Katz combina o exame econômico do atual desajuste neoliberal argentino e a rebelião das bases sindicais que pressionam as centrais a se confrontarem com Macri.
7- O impeachment da presidenta Park – O coordenador do Fórum Internacional na Coreia, Won Yongsu, nos apresenta sua perspectiva sobre a vitória do movimento das velas que logrou derrubar o governo corrupto de Park Geun-Hye.
8- G20: Protecionismo econômico e acordo pelo clima excluídos da declaração final – Pressão norte americana no encontro dos representantes das vinte maiores economias mundiais exclui condenação ao protecionismo econômico e apoio ao Acordo de Paris sobre alterações climáticas.
9- Angolanas marcham contra a criminalização do aborto – “No dia 23 será a votação final da proposta de proibição total do aborto no novo Código Penal angolano. Mulheres marcharam hoje na capital sob o lema “chega de mulheres mortas por abortos clandestinos”.”