8M: Um dia de luta que vai sendo extraído da consciência de todos

Roseli Fossari*

O dia 8 de Março, data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, foi criado, basicamente, para se ter uma data anual em que fossem lembradas as lutas e conquistas das mulheres durante a história da humanidade. Não só para lembranças e comemorações, mas, principalmente, para unir, lembrar e reforçar na consciência das mulheres a sua condição de cidadãs, de trabalhadoras, de membros importantes e constituintes da sociedade, tão construtoras dessa sociedade quanto os homens, para que jamais perdêssemos essa consciência de indivíduos, bem distante de visões machistas de apêndices, de coadjuvantes, de objetos de um mundo predominantemente dos homens.

Essa data nasceu no início do século XX, justamente para marcar as lutas das mulheres por melhores condições de vida, de trabalho e pelo direito ao voto. Primeiramente foi comemorado no dia 28 de fevereiro, de forma nacional, nos Estados Unidos, em 1909. Nos anos seguintes, outros países também comemoraram um dia alusivo à luta das mulheres, mas, em datas diferentes, normalmente entre o final de fevereiro até o dia 19 de março. Lembro ainda a importante contribuição do movimento socialista, não só para a instituição dessa data, mas, destacadamente, para o reconhecimento do papel da mulher na sociedade, sua necessária organização e, por fim, do estabelecimento de uma data comemorativa a essas lutas e organização.

Em 1975 a ONU declarou aquele ano como o Ano Internacional da Mulher e, reconheceu o dia 08 de março como Dia Internacional da Mulher, o que de certa forma deu força ao reconhecimento mundial dessa data, sua afirmação e divulgação até os dias de hoje.

Em 8 de março de 1917, as mulheres operárias da Rússia deflagraram uma greve contra o governo do Czar Nicolau II, devido à situação de fome que estavam passando, péssimas condições de trabalho e exploração. Esse acontecimento é reconhecido por muitos como tendo sido o estopim da Revolução Socialista Russa de 1917. Depois de vitoriosa a revolução, a feminista bolchevique Alexandra Kollontai persuadiu Lênin a oficializar o dia 08 de março como Dia Internacional da Mulher. Essa data até os dias atuais é feriado na Rússia e em outras repúblicas do leste europeu.

Ocorre que como tudo que envolva pessoas, lutas, conquistas, celebrações, esta data que, foi criada para celebrar a luta, a união, as conquistas, a resistência das mulheres em todas as dimensões de suas vidas, foi e continua sendo, paulatinamente, absorvida pelo liberalismo econômico‐financeiro, apoiado e impulsionado pela grande mídia que, ou lhe pertence ou é refém de seu dinheiro, transformando‐a em uma data para homenagens, presentes e lembranças das mulheres como o antigo objeto dos homens: belas, trabalhadoras, educadas, dedicadas, mães, donas de casa entre outras classificações afins, descoladas das imagens de lutas e conquistas, avanços e retrocessos desses movimentos tão caros às mulheres da classe trabalhadora. Quer dizer, para a classe dominante, o objeto pelo qual tal data foi instituída, o valor das lutas das mulheres, de forma ampla eu diria que luta por sua emancipação como indivíduo, como membro social em termos de igualdade com os homens, foi sendo deixado de lado, deixado de ser lembrado, de ser citado, é como algo que não deve ser falado, se possível até esquecido, ou pelo menos, adormecido na consciência de todos, especialmente das próprias mulheres.

Acredito que se fosse para termos um símbolo do dia 8 de março, ao invés de rosas, flores, corações, símbolos do feminino com esta ou aquela caracterização, desenhos de mulheres como normalmente esse dia é lembrado, deveríamos, de forma consciente, instituir como símbolo desse dia uma Amazona. Retratadas na história como mulheres guerreiras, que lutavam montadas a cavalo, boas na arte do arco e flecha e, que enfrentavam os homens que queriam submetê‐las. O próprio termo Amazona tem dois significados importantíssimos para nós, mulheres, quando pretendemos destacar nossa disposição de luta e resistência: esse termo que deriva de outro termo iraniano, quando lido em gentílico iraniano significa exatamente – guerreira – e, esse mesmo termo quando utilizado em jônico, significa “que luta junto”. Não seria perfeito termos como símbolo do dia que simboliza nossa luta, nossa capacidade de união e entendimento para lutarmos juntas e unidas pelo que consideramos justo, um símbolo que signifique: guerreiras que lutam junto?

Nós precisamos lembrar a nós mesmas, a todos e ao mundo, que o dia 8 de março é celebrado como o Dia Internacional da Mulher, mas, que esse dia festeja a mulher guerreira, não um enfeite feminino em forma humana.

*Servidora Pública Federal, Bacharel em História pela UFRGS, Bacharel em Direito pela UNIRITTER Porto Alegre e filiada ao PSOL