Lauro Alvares da Silva Campos

Histórico

Lauro Alvares da Silva Campos

Lauro Alvares da Silva Campos, casado, quatro filhos, nasceu em 14 de dezembro de 1928, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Filho de Carlos Álvarez da Silva Campos e Maria das Dores Brochado Campos. Faleceu em 13 de janeiro de 2003.

Em 1953, concluiu o Curso de Ciências Jurídicas e Sociais na Universidade Federal de Minas Gerais. Terminou em 1958 pós-graduação em Economia do Desenvolvimento, na Universidade Pro DEO, em Roma, na Itália. O título de Doutor em Ciências Jurídicas obteve em 1963, em concurso para catedrático em Economia Política na Universidade Federal de Goiás, onde lecionou também História do Pensamento Econômico.

Moeda, Crédito e Banco e Análise dos Problemas Sociais são algumas das disciplina que ministrou na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, entre 1954 e 1976. Proferiu aulas, como visitante, na Universidade de Sussex, na Inglaterra, em 1976. Integrou o Departamento de Economia da Universidade de Brasília, de 1966 a 1991, tendo passado em 1971 ao corpo docente do Curso de Mestrado. Elaborou o projeto de criação e a estrutura do Curso de Relações Internacionais da UnB.

Eleito, pelo Distrito Federal, Senador da República para o período de 1995 a 2003, integrou como membro titular no Senado Federal a Comissão de Assuntos Econômicos (desde1995) e a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (a partir de 1999). Foi também titular da Comissão de Educação (1995-1998) , na qual depois foi suplente, condição em que atuou na Comissão de Assuntos Sociais (a partir de 1997). Participou também, como suplente, das Comissões de Fiscalização e Controle (1995 – 1996) e de Serviços de Infra-estrutura (1995 – 1998).



Crítico implacável

Formado em Direito e Economia, Campos sempre marcou seus discursos com críticas implacáveis ao neoliberalismo e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 2001, quando rompeu com o PT, não poupou munição ao estilo light de Luiz Inácio Lula da Silva, então pré-candidato à presidência da República. ‘‘Ele se tornou um equívoco. O processo o atropelou, o mundo ficou muito complexo, o partido cresceu muito, chegaram os marqueteiros, os fazedores de cabeça, as eminências pardas e, obviamente, ele não tinha estrutura para resistir a isso’’, disse em entrevista à imprensa.


Ruptura com o PT

Marxista, Lauro Campos filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) em 1981. Pertenceu à ala esquerda do partido e foi por ele que conseguiu eleger-se senador, em 1994, com 352.165 votos. Iniciou o mandato no mesmo ano em que o então aliado Cristovam Buarque assumiu o Governo do Distrito Federal. Oito anos depois, a atuação combativa no Senado e a rivalidade adquirida com Cristovam levaram Lauro Campos a uma ruptura radical com o PT. O estopim foi a declaração do então presidente de honra do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, de que o ex-governador Cristovam Buarque seria o ‘‘melhor candidato’’ petista ao Senado em 2002. Campos avaliou o posicionamento de Lula como uma intervenção. ‘‘O que o Lula veio fazer aqui foi me expulsar. Eu me considero expulso. Quem está expulso, não discute’’, disse na época. Ele queria concorrer à reeleição, mas tinha Cristovam como adversário dentro do partido. Criou-se um racha interno. No auge da crise, Lauro Campos chegou a declarar que o governo de Cristovam tinha sido pior do que o de Roriz e admitiu que não havia votado no colega petista para a reeleição ao GDF, em 1998. Em 16 de abril de 2001, Lauro Campos deixou o PT e foi acolhido na legenda do PDT de Leonel Brizola.


Decepção

‘‘Sob certo aspecto, o governo do Cristovam foi mais nefasto (do que o de Roriz). Porque muita gente pensava que Cristovam fosse socialista, petista, no sentido radical do termo. Para elas, a desmoralização e a decepção com o Cristovam significam decepção com o socialismo. Mas ninguém pode se decepcionar com o socialismo diante de um governo de Roriz. A desmoralização do governo Roriz é muito menos grave que a desmoralização do governo do professor Cristovam’’, criticou Lauro, em entrevista à imprensa em dezembro de 2001.

Obras

  • Controle econômico e controle social. (Tese)
  • A crise brasileira: dois séculos de permanência, Humanidades, v. 3, n. 10, p. 15-32, ago./out. 1986.
  • A Crise da Ideologia Keynesiana. Rio de Janeiro: Campus, 1980. 335 p.
  • A crise de sobreacumulação e o imposto de renda negativo. Folha de São Paulo, São Paulo, 6 de dez. 1991. Caderno Dinheiro, Seção Opinião Econômica, p. 3-2.
  • A crise e a crise da previdência. Correio Braziliense, Brasília, 28 de maio 1996. p. 17.
  • Darcy Ribeiro, o mágico. Folha de São Paulo, 2 mar. 1995. p. 1-3.
  • SENADOR LAURO CAMPOS

    Do parlamentarismo feudal ao burguês-aristocrático. Momento Político, Brasília, v. 1, n. 5, p. 10, 30 abril 1992.
  • Do parlamentarismo feudal ao burguês-aristocrático-II. Momento Político, Brasília, v. 1, n. 6, p. 6, 07 maio 1992.
  • Do parlamentarismo feudal ao burguês-aristocrático. Momento Político, Brasília, v. 1, n. 11, 14 maio 1992.
  • Do parlamentarismo feudal ao burguês-aristocrático. Momento Político, Brasília, v. 1, n. 8, p. 10, 21 maio 1992.
  • Do parlamentarismo feudal ao burguês-aristocrático. Momento Político, Brasília, v. 1, n. 10, p. 4, 4 junho 1992.
  • Errando também acerta. Jornal de Brasília, Brasília, 17 março 1996. p.2.
  • “Inflação: ideologia e realidade”. Discursos.
  • FHC: a fome, o desemprego, a concentração da renda e o sucateamento das estatais como soluções falsas para uma crise que se aprofunda. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1996. 56 p.
  • FHC e a reforma administrativa. Correio Braziliense, Brasília, 20 maio 1996. p.9
  • Globalização e sobreacumulação. Correio Braziliense, Brasília, 13 maio 1996. p.9
  • A inflação disfarçada de FHC. Jornal de Brasília, Brasília, 21 fev. 1995. p. 2.
  • Inflação, ideologia e realidade. Tese.
  • Malthus e Keynes: duas almas gêmeas, irmanadas na defesa do capitalismo. Brasília: Fundação Universidade de Brasília, 1980. 61 p. (texto para discursão, n. 65).
  • Mecanismos de sustentação do crescimento: o terciário. Brasília: Fundação Universidade de Brasília, 1973. (texto para discussão, n. 13).
  • Mecanismos de sustentação do crescimento II: as agendas. Brasília: Fundação Universidade de Brasília, 1974. 52 f. (texto para discussão, n. 13).
  • Moeda e produção. Brasília: Fundação Universidade de Brasília, 1991.
  • O mundo dos tijolos. Jornal de Brasília, 29 maio 1995. p. 2.
  • Narciso e o espelho político. Momento Político, Brasília, v. 1., n. 17, p. 10, 26 ago. 1992.
  • Narciso e o espelho político II. Momento Político, Brasília, v. 1., n. 21, p. 6, 8 out. 1992.
  • Palavras certeiras. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1995. 144p.
  • O PT frente a crise do capitalismo. Brasília: [s. n.], [199-].
  • Saúde: diagnóstico do diagnóstico. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1996. 13 p.
  • Uma apresentação da economia política do não. Brasília: Fundação Universidade de Brasília, 1983. 48 f. (texto para discussão, n. 111).
  • Uma crise e vários diagnósticos: o caos brasileiro. Brasília: Fundação Universidade de Brasília, 1982. 61 f. (texto para discussão, n. 96).

OBITUÁRIO

Morre o senador Lauro Campos

Crítico ferrenho da política neoliberal e do Fundo Monetário Internacional(FMI), o senador foi velado, a partir das 10h de 14 de janeiro de 2003, no Salão Negro do Congresso Nacional. O enterro foi à tarde na ala dos pioneiros no Campo da Esperança.

Discursos inflamados e uma crítica feroz ao capitalismo foram características marcantes da carreira do senador Lauro Campos (PDT). Derrotado nas urnas em 6 de outubro de 2002 e debilitado por causa de um infarto sofrido quatro dias depois das eleições, Lauro Campos morreu às 14h30min de 13 de janeiro de 2003, no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo. A assessoria de imprensa de Campos informou que ele morreu em decorrência de uma infecção hospitalar.

O senador sofreu um infarto no dia 10 de outubro de 2002, no plenário do Senado. Levado às pressas para o Hospital Santa Lúcia, não precisou ser operado. Mas teve várias complicações em seu estado de saúde durante o tratamento. Os remédios provocaram comprometimento das funções renais e hepáticas de Lauro Campos e o levaram a outras internações. No dia 10 de dezembro, a família decidiu transferi-lo para o Incor. Campos passou o aniversário de 74 anos, comemorado no dia 14 de dezembro, internado.

Na véspera do Natal, a equipe médica do Incor deu alta ao senador, mas ele nem chegou a ir para casa. Uma febre levantou a suspeita de infecção e obrigou-o a permanecer internado. A partir daí, seu estado de saúde só piorou. A febre não cedeu com medicação. Ele teve de ir para a UTI e permaneceu em coma induzido por vários dias até morrer.

O advogado Ulisses Riedel de Resende assumiu a vaga de Lauro Campos no Senado por 17 dias, até a posse dos senadores eleitos em 2002.

Repercussão

‘‘O cenário político brasileiro e o PDT perderam um de seus maiores expoentes: o senador Lauro Campos. É com muito pesar que recebo a notícia de seu falecimento.”
Miro Teixeira (PDT), Ministro das Comunicações.

‘‘Lauro Campos sempre lutou por seus ideais. Mesmo divergindo de suas idéias, aprendi a respeitá-lo e a admirar sua postura intransigente na defesa de suas idéias. É uma perda para o Distrito Federal.''
Joaquim Roriz, Governador do DF.

‘‘Estou convocando todos os militantes do partido para participar das últimas homenagens ao senador, um homem sério, competente e lutador. É uma liderança nacional do DF que sempre foi motivo de orgulho para o PT.’’
Wilmar Lacerda, presidente do PT-DF.

‘‘Era uma pessoa íntegra, ligada aos princípios democráticos. Com um comportamento claro e decidido, manteve o discurso de oposição ao governo passado. A oposição perdeu um ferrenho defensor.’’
Lindberg Cury (PFL-DF), Senador.

‘‘Ele foi um homem muito correto, que prestou um grande serviço a Brasília e ao Brasil’’
Paulo Octávio (PFL-DF), Senador.

Fonte: Correio Braziliense, 14/01/2003


LAURO CAMPOS (1928-2003)

A homenagem que a mídia não fez

Ivo Lucchesi (*)

lauro-camposCorretíssimo está o jornalista Alberto Dines quando defende radicalmente a inexistência de qualquer censura à imprensa. Não menos certo, ao afirmar que, em lugar da censura, há de vigorar o permanente estágio de vigília crítica sobre os passos dados pela mídia, sendo, aliás, esta a função do OI. É, portanto, perseguindo tal propósito que não se pode deixar de registrar omissão recente.

É sabido de longa data que, resguardadas as exceções de sempre, a parceria entre mídia e intelectual é, no mínimo, tensa ou conflitiva, principalmente no Brasil das últimas três décadas. É possível que a responsabilidade caiba a ambas as partes. A apuração mais criteriosa acerca desse fato requereria escrita de outra ordem. No caso, pretende-se apenas assinalar o melancólico tratamento jornalístico que a “grande imprensa” destinou ao falecimento, em 13 de janeiro deste ano, de um dos mais ilustres, talvez o mais completo, membro do Senado: refiro-me ao senador Lauro Campos (PDT-DF). Nele se harmonizavam a envergadura intelectual, a retidão do caráter e a combatividade, cuja origem provinha de alentados estudos e de não menos enraizadas convicções. A cada participação na tribuna, correspondia uma riquíssima aula para uma platéia nem sempre à altura. Enfim, o senador permitia, com sua retórica, que outros absorvessem um pouco mais de conhecimento, ainda que, para a maioria, o fosse desnecessário. A “grande imprensa” nada lhe dedicou fora de burocráticos e habituais obituários. Perdeu-se oportunidade, como poucas, para enaltecer-se a figura de um político destituído de qualquer sombra inoportuna capaz de acinzentar-lhe a luminosa trajetória de décadas.

Pobre jornalismo aquele que não desenvolve a sensibilidade para perceber quando, de maneira efetiva, pode tornar-se um instrumento de ativa contribuição para o caráter nacional. Sabendo-se que, para a maioria da população, a figura do político não goza da mais plena credibilidade (e não faltam razões para isso), essa era a hora de oferecer-se a essa mesma população o contraponto, evitando a corrosão progressiva e de efeitos perigosos a todos. É óbvio que propinas desviadas para a Suíça devam merecer diligente acompanhamento e intensa investigação. Todavia, esse foco não exclui o reconhecimento de quem, na vida pública, exerceu sua função com mais plena dignidade. Infelizmente, a morte do senador passou ao largo, em simplórias e marginais matérias informativas. Que pena.

Mídia e o político intelectual

O negligenciamento com o qual a mídia tratou o falecimento do senador não difere daquele que ela lhe conferiu em vida. Afora episódicas aparições, por conta de livros publicados, Lauro Campos, ao longo de seus mandatos, jamais foi escolhido para ser exposto a refletores ou a gravadores. Em outras palavras, não era o político palatável ao tempero midiático, diferentemente de outros que sempre estão na vitrina. Por outro lado, nenhum fato ao redor da vida do senador oferecia enredo interessante para uma novela lacrimejante ou de perfil detetivesco. Ou seja, por ser correto e intelectual, não poderia ser contemplado com o benefício do suporte midiático, sempre à espreita do próximo escândalo ou desvio de conduta. Volto a frisar: nada contra, mas que se realce a outra face, sob pena de sucatear a ainda frágil democracia brasileira.

Outro ponto merece comentário. O descaso da mídia já fora antecipado pelo alto escalão do PT, partido do qual, desde a fundação, Lauro Campos fora signatário – elo que teve de ser desfeito quando, em abril de 2001, a cúpula do PT achou mais oportuno optar pelo nome de Cristovam Buarque. Ao então senador Lauro Campos não restou outra opção além da saída. Triste do partido que para preservar um perde outro. Feliz do partido que pode escolher entre dois belos nomes. A realidade, por vezes, cria injustas injunções… O emérito professor de Economia Política da UnB acabou ingressando no PDT. Com a nova legenda, o senador conheceu a amarga recusa do eleitorado do Distrito Federal, que preferiu, além da merecida vaga obtida por Buarque, dar a outra ao senhor Paulo Otávio (PFL). Lauro Campos foi relegado à humilhante quarta votação nas eleições de outubro passado. Enfim, desvios do jogo eleitoral produzem distorções que exigem acatamento. Tomara que os eleitores brasilienses não se arrependam tardiamente. Afinal, eles poderão consolar-se com os eleitores cariocas que levaram ao Senado o “amado pastor”, deixando de fora nomes como o de Leonel Brizola e Artur da Távola (Paulo Alberto Monteiro de Barros). É curioso que, entre os três excluídos, algo de comum haja: história e conhecimento.

Entre o casamento e o divórcio

O que efetivamente aqui se está tentando pontuar é o divórcio entre a mídia e o intelectual. Que razão obscura insiste em lançar ao ostracismo aquele que criticamente se posiciona? Que mal profundo a voz independente pode produzir à rede corporativista? Quais concessões são exigidas pela mídia para, em troca, dar visibilidade? Nesse momento da vida brasileira em que se mobiliza o sentimento de “esperança” e de “transformação” (será?), talvez se faça oportuna uma revisão profunda quanto a certos procedimentos e compromissos.

Em clima de injetada esperança – e que não seja traída por enganosas mudanças –, não será papel da mídia, ao invés de diariamente focalizar abraços e beijinhos, casar-se com o refortalecimento da inteligência, como valor com o qual uma nação possa aspirar à efetiva autonomia? Será, por outra, que a mídia (ou, pelo menos, a “grande imprensa”) insistirá em joguinhos de “disse-me-disse” e outras picuinhas mais? Está aí. A hora para mudança é agora. Recusada, vingará, como sentença, a afirmação de Lauro Campos, quando de seu desligamento do PT: “Não há mais uma consciência crítica”.

Ainda que a mídia não venha a fazer a sua parte no “pacto da mudança”, poderá o (e)leitor colaborar consigo mesmo lendo três primorosas obras desse mais que senador – um intelectual dedicado ao aprimoramento do pensamento crítico. Em 1980, Lauro Campos publicou A crise da ideologia keynesiana; em 1991, O PT frente do capitalismo. Por fim, em 2001, em obra à qual o senador intelectual dedicou mais de década de estudos e revisões, foi lançado A crise completa: a economia política do não. Sem dúvida é sua obra mais completa e madura, na qual sinaliza horizontes preocupantes com base em criteriosa análise sobre os rumos econômicos e políticos da contemporaneidade, destacando o “império das não-mercadorias”.

No mais, fique o agradecimento por uma vida exemplar, como intelectual e político. Lauro Campos era o símbolo que melhor encarnava a relação entre o conhecimento e sua destinação pública. O lamento profundo é o de saber que os espaços da política brasileira não foram justos quanto ao potencial de uma figura pública tão preparada quanto – da maioria – desconhecida. Que mais poderá haver a lamentar, sob a atmosfera dos alegres “Tristes Trópicos”?

(*) Ensaísta, doutorando em Teoria Literária pela UFRJ, professor-titular da Facha, co-editor e participante do programa Letras & Mídias (Universidade Estácio de Sá), exibido mensalmente pela UTV/RJ



Fonte: Observatório da Imprensa