As rachaduras do governo Trump se ampliaram nesta semana. A base parlamentar do partido Republicano o abandonou na proposta de exterminar o “Obamacare”, impondo-lhe a sua maior derrota desde que tomou posse da Casa Branca. Contestado nas ruas por constantes mobilizações, Trump tem agora o desafio de recompor o próprio partido para fazer avançar uma reforma tributária, que privilegia os mais ricos e a indústria bélica, em detrimento das áreas sociais.
Do outro lado do Atlântico, o atentado em frente ao Parlamento de Londres dominou as atenções, numa semana em que começou com o debate televisivo dos presidenciáveis na França e terminou com protestos na capital britânica contra o processo do Brexit. Manifestações, aliás, não faltaram ao redor do mundo: no domingo (19/03), os libaneses foram às ruas contra a corrupção, mesmo motivo que levou milhares de russos a se mobilizarem em Moscou neste final de semana; os chilenos marcaram presença nas avenidas de Santiago para pedir o fim do sistema previdenciário privado; já os argentinos deram uma demonstração de força colossal ao transbordar Buenos Aires num multitudinário ato em apoio aos professores paralisados há três semanas.
Estas e outras notícias podem ser conferidas nesta edição do Clipping. Boa Leitura!
Charles Rosa – Observatório Internacional
NOTÍCIAS DA IMPRENSA INTERNACIONAL
Primeira derrota legislativa de Trump
O projeto que revogava a reforma do sistema de saúde público realizada por Obama foi retirado de pauta na sexta-feira (24/03), após as diversas facções dos Republicanos não chegarem a um acordo. Enquanto os ultraconservadores exigiam golpes mais duros à assistência médica, os moderados pretendiam uma projeto liberalizante “intermediário”. O recuo é interpretado como a maior derrota de Donald Trump até o momento, visto que uma das suas principais promessas de campanha foi o fim do Obamacare. A sensação de fragilidade de sua base parlamentar de apoio pode atrapalhar a aprovação da reforma tributária que arrocha outras pastas para concentrar recursos na Defesa, algo de grande interesse da parte da elite econômica que o acompanha.
Protestos no Reino Unido contra o Brexit
A quatro dias da primeira-ministra Theresa May iniciar o processo formal de secessão britânica em relação a União Europeia, milhares de ingleses compareceram às ruas de Londres neste sábado (25/03). Movidos pelo lema “Unidos pela Europa”, os adversários do Brexit contestaram a existência de um plano B para a economia do Reino Unido, conforme promessa dos que impulsionaram a campanha do Leave. O ato terminou em frente à Praça do Parlamento, onde esta semana 4 pessoas foram vítimas de um atentado terrorista cometido por um inglês de 52 anos. A tragédia interrompeu a sessão parlamentar escocesa que analisava a proposta do governo da Escócia de um novo referendo separatista.
Primeiro debate presidencial na França
A um mês das presidenciais, nas quais 40% dos eleitores ainda se encontram indecisos, os cinco candidatos mais cotados nas pesquisas se enfrentaram no primeiro debate televisivo (20/03). Segundo relatam os principais jornais europeus, Macron e Le Pen concentraram as atenções, num evento em que Fillon ficou apagado – bem como seus escândalos – e Melenchon e Hamon disputaram o mesmo espaço à esquerda. A ultra-direitista foi a mais atacada e a intolerância de suas propostas imigratórias foi o flanco mais constante dos duelos. Já Macron buscou reforçar a identidade centrista, apelando para uma “renovação” da política sem extremismos. Uma sondagem divulgada após o debate mostra que Le Pen e Macron ampliaram a vantagem para os outros candidatos.
Repressão na Rússia
Nos maiores protestos desde 2012, 8 mil opositores a Putin compareceram às ruas para protestar contra a corrupção e foram enquadrados na lei anti-protestos. O saldo foi de 500 detidos, segundo a polícia russa, dentre os quais o principal adversário de Putin no momento, o blogueiro Alexei Navalny que se postula como desafiante do mandatário russo nas presidenciais de 2018 – embora esteja impedido em decorrência de uma condenação por malversação dos recursos públicos, o que ele alega ser uma perseguição.
Possível referendo europeu na Turquia
Em discurso neste sábado (25/03), o presidente Recep Erdogan cogitou a hipótese de um futuro referendo no país para avaliar o interesse nacional em se somar a União Europeia, após 12 anos de negociações atrasadas e um contexto de distanciamento diplomático de Ancara com Bruxelas. No próximo 16 de abril, haverá um referendo constitucional que poderá outorgar mais poderes a Erdogan.
Protestos no Líbano
Beirute foi palco de manifestações no domingo passado (19/03) contra a corrupção e o aumento de impostos. Convocados por plataformas ativistas, descoladas dos principais partidos, os milhares de presentes reivindicaram o fim do nepotismo, um maior controle das contas públicas e melhores serviços públicos. Endividado, o Estado libanês se deteriora a cada ano e a população ressente cortes diários de eletrecidade e água, o que explica a chuva de garrafas plásticas com a qual foi recebido o primeiro-ministro Saad Hariri.
Tensão em Gaza
Na sexta-feira (24/03), um líder do Hamas foi assassinado por homens encapuzados. O movimento palestino acusou o Estado israelense pelo crime e em represália fechou a principal passagem da região, a primeira vez que isso acontece desde que o Hamas assumiu o controle do enclave litorâneo em 2007, submetido a bloqueio israelense e restrições da fronteira egípcia. No mesmo dia, um enviado da ONU havia denunciado Israel por ignorar a exigência de encerramento dos colonatos em território palestino.
Maestrazo na Argentina contra Macri
Na quarta-feira (22/03), centenas de milhares de argentinos argentinos foram às ruas de Buenos Aires em apoio aos professores que exigem aumentos salariais e o fim da mercantilização do ensino público promovida por Mauricio Macri. A forte paralisação nacional dos professores, que já perdura há três semanas sem qualquer sinal de negociação do governo, está sendo classificada como a maior em 30 anos
Protestos no Chile contra a Previdência privada
Santiago assistiu a uma enorme manifestação neste domingo (26/03) contra o sistema previdenciário implementado pela ditadura Pinochet em 1981 (as AFP- as Administradoras dos Fundos de Pensão). A convicção cristalizada na população é de que o regime privado de aposentadorias remunera benefícios menores que os valores prometidos.
Reta final do segundo turno no Equador
Falta uma semana para os equatorianos decidiram quem sucederá Rafael Correa e as pesquisas apontam empate técnico entre o oficialista Lenin Moreno e o opositor banqueiro Guillermo Lasso, com ligeira vantagem para Moreno. O grupo correísta conseguiu reverter nos últimos dias a tendência de alta de Lasso, que logrou conquistar mais eleitores dos candidatos derrotados no primeiro turno, na medida em que o governo se viu implicado nos tentáculos da Odebrecht. A campanha de Moreno promete manter os benefícios sociais implementados pelo governo de Rafael Corea, que alíás tem se jogado de cabeça na disputa, diferentemente do que aconteceu na primeira volta, quando teve uma presença mais discreta.
NOTÍCIAS E ARTIGOS DE SITES DE ESQUERDA
Bernie Sanders, o político mais respeitado nos EUA – Em artigo de opinião no The Guardian, Trevor Timm exibe os altos índices de aprovação à imagem de Bernie Sanders neste momento e a contraditória resistência do aparato democrata em aceitar a essência da mensagem que o progressivo movimento em torno de Sanders consegue passar a milhões de estadunidenses.
A crise política na França e as eleições – O portal Sin Permiso preparou um dossier de três textos a respeito da conjuntura eleitoral francesa a um mês da realização do primeiro turno. O historiador Roger Martelli observa as fraturas do regime francês e o fracasso da esquerda em se postular como alternativa ao establishment. Por sua vez, o jornalista Rafael Poch analisa o desempenho dos presidenciáveis no primeiro debate televisivo. Por fim, o sociólogo Gerard Maugé demonstra a incorreção da ideia de que a classe trabalhadora em sua maioria é eleitora da Frente Nacional.
Segundo turno no Equador: entre o continuísmo com problemas e o retrocesso neoliberal – Entrevista com o sociólogo belga François Houtart, residente em Quito há seis anos, sobre a conjuntura política no Equador. Houtart postula um voto defensivo em Lenin Moreno, sem deixar de tocar nos problemas do projeto correísta, principalmente na relação verticalizada e instrumentalizada com os movimentos sociais.
Odebrecht na América Latina – O sociólogo Bernardo Correa, a partir do Peru, analisa a lógica de expansão das megaempreiteiras pela América Latina nas últimas décadas e apresenta a experiência da esquerda peruana na luta por radicalizar a pauta anti-corrupção.
A esquerda latino-americana e a necessidade da crítica – Em entrevista para um jornal uruguaio, o sociólogo venezuelano Edgardo Lander reflete sobre a transição do governo Chávez para Maduro, bem como o agravamento dos problemas internos do bloco bolivariano que administra o país há quase duas décadas.
60 anos de União Europeia e sua desagregação atual – G. Buster expõe as contradições do projeto neoliberal hegemônico no bloco europeu e interpreta as propostas da Comissão de Bruxelas para restaurar a estabilidade a longo prazo. Buster opina ainda sobre qual estratégia a esquerda europeia deve adotar para voltar a ser crível para amplas massas.
Massacre no Iêmen – O jornalista espanhol Mark Aguirre relata in loco no Iêmen o massacre efetuado pelas tropas sauditas e a situação de crise humanitário no país mais pobre do Oriente Médio.
Frente Ampla uruguaia e decreto anti-piquete – O governo de Tabaré Vázquez aprovou uma resolução que impede o bloqueio de estradas e piquetes para protestos gerou grande controvérsia no seio da Frente Ampla e as centrais sindicais uruguais já se comprometeram a resistir a este grave ataque ao direito sindical de se manifestar paralisando a produção.
Crescente estado de guerra na Filipinas – Pierre Rousset alerta para a marcha reacionária patrocinada pelo governo de Rodrigo Duterte. As liberdades fundamentais estão sendo perseguidas no país, sob o pretexto da “guerra às drogas”.
A História da Revolução de Fevereiro – O historiador Kevin Murphy reconstitui os acontecimentos e as circunstâncias que culminaram na derrubada do czar Nicolau II, na revolução democrática que sacudiu a Rússia há 100 anos.